Diário de Estagiário

Espelho?

 

Engraçado quando a gente tenta dar uma de “bonzão” e, não mais que um minuto após a investida, acabamos dando uma gafe tão feia que saímos pior que entramos.


Essa foi retirada de um processo criminal, em alegações finais, onde o advogado tenta descreditar o depoimento de uma testemunha um tanto importante:


“Estranho Excelência é estranho a testemunha ‘nunca ir com os corno do
réu’, (expressão que dá total transparência ao nível social de vida
das pessoas envolvidas no presente) MAIS aceitar do mesmo compras de
suas necessidades e comida quando passavam fome.”


A bizarra repetição de lado, não vou nem comentar que o advogado é um gaúcho de “porto” e que provavelmente essa é a razão de ele não saber que “os corno” (pronuncia-se “córno”. “Côrno” é o pobre coitado chifrudo que escolheu mal a esposa) é uma expressão idiomática endêmica de Florianópolis, nada tendo a ver com classe social.


Logo após o asqueroso comentário, o erro de português se segue.
A troca da conjunção adversativa “MAS” pela aditiva “MAIS” é um erro recorrente e, devo dizer, básico, tosco.


Levantem-se outros advogados para defendê-lo: “foi apenas erro de digitação!”. Nessa peça de vinte e sete páginas já contei mais de dezesseis vezes o mesmo erro. Se foi o estagiário ou não, eu não sei, mas ele que assinou, portanto é quem responde.

Vamos conversar:


– Mas: exprime concorrência de ideias. Eu tenho um carro mas ando de ônibus. É controverso ter um carro e andar de ônibus, MAS ainda assim algumas pessoas o fazem (eu não – sou sedentário demais);


– Mais: noção de adição. Papai mais mamãe me amam.


Entendeu ou quer que desenhe?  Sem problemas. A sentença o colocará no devido lugar.

 

Como citar e referenciar este artigo:
BELLI, Marcel. Espelho?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/diario-de-estagiario/espelho/ Acesso em: 28 mar. 2024