Sociedade

O terrorismo no Brasil. Uma visão além da “normalidade”

Dizer que não há terrorismo no Brasil é mesmo que dizer que não há guerra civil.

Terrorismo, dos traficantes e dos milicianos. Guerra Civil, entre Direita e Esquerda. Geralmente, a palavra guerra lembra projéteis, caças, porta-aviões, pelotões armados. Existe a guerra de informações e contrainformações, de forma que se fomentem discórdias. O terrorismo, também, geralmente é considerado quando há explosões. O terrorismo psicológico pode ser tão devastador quanto o terrorismo por atos bélicos.

Guerras ideológicas, entre Direita e Esquerda, têm desencadeado o terrorismo. Manifestações, seja de qualquer extremo ideológico partidário, têm causado ataques verbais e físicos. A liberdade de expressão e de pensamento é uma ameaça, dentro e fora da internet. Qualquer um que se atreva discordar de uma das ideologias é um inimigo em potencial. Terrorismo e guerra, ambos se completam, e não dá muito para distingui-los quando o propósito é liquidar o inimigo, o inimigo do inimigo.

Temos dois extremos, de um lado os narcotraficantes e os milicianos, de outro os partidos políticos e os partidários da Direita e da Esquerda. Guerras e atos terroristas se desencadeiam. Qual é a pior para a democracia? Todas são péssimas. Qualquer guerra ou terrorismo dentro de um Estado é certo enfraquecer a civilidade que se espera de uma democracia. Essa se encontra fragmentada, quase como escombros.

Há outra guerra, outro terrorismo, a ganância ímprobos lobistas e agentes públicos. Uma guerra contra o Estado Democrático de Direito, um terrorismo sofisticado que corrói os pilares da Democracia. Nessa guerra, nesse terrorismo, as mortes, não declaradas, oficialmente, são os cidadãos que suportam o ônus destes pesadelos: os péssimos serviços públicos, as compras superfaturadas, as compras desnecessárias, as reformas e construções que lembram as construções das pirâmides egípcias, levam décadas, se bem que, as pirâmides, foram terminadas.

As redes sociais servem de nefastos intentos sejam de milicianos, de narcotraficantes, de partidos políticos, Direita ou Esquerda, de homofóbico, heterofóbico, gordofóbio e tantos outros fóbicos. Invocam-se direitos, atos “sagrados”, a compostura da “família de Deus”, a “verdadeira religião”, a educação “correta” aos filhos, a indumentária “correta” feminina, a oratória “correta”, sem sotaques comuns regionais. O padrão de comportamento é um, o contrato social deve favorecer a qual tipo sanguíneo, a qual etnia, a qual estratificação social?

Os brasileiros se comoveram com os ataques terroristas na França, no entanto os mesmo brasileiros não admitem que façam terrorismos contra os próprios concidadãos no território nacional. A guerra e o terrorismo, no solo pátrio, acontecem:

No trânsito: os algozes são os que dirigem alcoolizados;

Nos transportes públicos: os “encoxadores”, os que negam a vez ao idoso, o motorista que coloca o veículo em marcha sem se importar com a vida do passageiro que ingressa ou sai do coletivo, os veículos que são colocados em circulação sem os equipamentos de segurança ou com os equipamentos inoperantes ou defeituosos;

Na relação fornecedor e consumidor, cujo desconhecimento fidedigno dos consumidores aos seus direitos os tornam presas fáceis dos fornecedores;

Nas instituições democráticas, onde servidores tratam os administrados com desdém sejam eles operadores de Direito, pedreiro etc.;

Nos hospitais, quando os profissionais de saúde escondem-se dentro de algum local para não atender, prontamente, o infeliz indivíduo que incomoda pedindo ajuda;

Nos lares, quando homens trogloditas espancam suas parceiras “em nome do amor”.

Delineei alguns comportamentos. Contudo, as relações humanas no Brasil se assemelham aos octógonos das lutas marciais, o importante é vencer o “inimigo”. A diferença do octógono aos esportistas é que há competição para provar quem é o melhor, no octógono da vida diária dos brasileiros, a competição é simplesmente pelo fato de Lei de Gérson, ou leve vantagem em tudo.

A normose que se apresenta no cotidiano brasileiro tornam os cidadãos destituídos de limites ao bom senso. Por exemplo, os linchamentos. Justificam-se os linchamentos em nome da ordem, dentro de uma desordem criada. Justificam-se, também, a corrupção ativa, pois “os governantes roubam”. Justificativas, assim formam-se guerras e terrorismo ideológicos no Brasil.

Entender a contemporaneidade brasileira é admitir que haja desordem envernizada de ordem. A “normalidade” dos atos incivilizados, sejam pelos agentes públicos ou não, soam como consequências da pluralidade de ideias normais aos seres humanos. Ora, é normal a pluralidade de ideias, de convicções, o que não é normal é justificar atos desumanos como atos necessários para mudar os acontecimentos perturbadores à democracia, à civilidade.

A Revolução Francesa trouxe a lume importante lição: sem limites, todos irão parar na guilhotina, mesmos os defensores da ordem, da liberdade, da harmonia, do progresso, da paz, da igualdade. As denúncias de violações de direitos humanos aos afrodescendentes, às mulheres, aos LGBTs etc. Demonstram que há guerra e terrorismo no Brasil. Loucos os homens que admitirem que as agressões sejam apenas situações “normais” de divergências ideológicas.

Sérgio Henrique da Silva Pereira: jornalista, professor, produtor, articulista, palestrante, colunista. Articulista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Investidura – Portal Jurídico, JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação.

Como citar e referenciar este artigo:
PEREIRA, Sérgio Henrique da Silva. O terrorismo no Brasil. Uma visão além da “normalidade”. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2015. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/sociedade/o-terrorismo-no-brasil-uma-visao-alem-da-qnormalidadeq/ Acesso em: 28 mar. 2024