Política

Grito dos Excluídos

 

 

Iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil realizar-se-á, pela décima segunda vez, no dia 7 de setembro deste ano, considerado o dia da Independência do Brasil, o Grito dos Excluídos.

 

Aquela se traduziu em tornar-nos independentes de Portugal, por todas as razões conhecidas. Outras independências ainda estão por acontecer. Entre elas, a da exclusão.

 

Quando a nossa sábia Mãe Igreja denominou grito a esse ato, o fez em sintonia, com aquele momento, em que Deus se manifestara a Moisés e lhe disse, “vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi seu clamor”.

 

É a confiança no Deus que era, que é e que vem, que autoriza a Igreja a estar certa de que como Pai, Ele não se esquece dos seus filhos e, quando se faz a plenitude dos tempos, vem ao encontro das suas angústias das suas dores, das suas esperanças, de tudo quanto lhe diz respeito, porque é um Deus amor!

 

O grito hoje se insere no contexto pastoral da Igreja. Consolidou sua realização por ser expressão conjunta de todos os que sofrem e são excluídos de tantas formas, pelas políticas dissociadas dos seus principais destinatários, pelo desvio do rumo da história e esquecimento por quem deve, da vocação brasileira, de erradicar a pobreza e promover os direitos humanos entre o que de melhor se propôs. O grito já deixou as fronteiras da nossa Pátria, assumiu dimensão continental, além de se ter aliado a todos que têm “fome e sede de justiça”.

 

Expressa a resistência dos que sabem que na luta é que melhor demonstram inconformidade com o estágio das coisas. Sabem que a mobilização há de ser permanente, ou não só nas vésperas ou ocasião de grandes acontecimentos, por exemplo, as eleições neste ano.

 

Por si, o ser humano revela-se muito diferente da imagem de Deus mediante a qual foi criado. Devasta florestas, seca rios, altera o curso natural da criação e embora percebendo que as conseqüências se fazem, prossegue indiferente, visando unicamente o lucro fácil, a vontade de ter sempre mais, enriquecer.

 

Tudo aponta para a necessidade de grandes mudanças no contexto nacional, mas as iniciativas pertinentes, ou são sufocadas no seu nascedouro, ou não chegam a ser geradas. Os interesses corporativistas, por exemplo, indiferentes com a sorte coletiva, fazem de tudo para que os próprios privilégios permaneçam intactos.

 

As efetivas reformas não são feitas e para fazer de conta que grandes problemas são objeto de ocupação adotam-se meros paliativos. É verdade que se multiplicam a custos muito altos, porque se diluem também nos meandros burocráticos. Na verdade o que mais se cobiça é a reverência e o reconhecimento de quem privado de tantos modos e de tanto pelas circunstâncias em que vive, contenta-se com muito pouco e ainda agradece.

 

No dia sete de setembro, portanto, quando estivermos nas ruas e praças, qualquer que seja a atitude que assumirmos ou que nos for sugerida por quem dirigir o ato, seremos uma outra geração de israelitas oprimida sim, mas confiante de que Deus ouvirá nosso grito, que seremos atendidos e não nos poupemos porque da força indignação brotam sementes de transformação.

 

 

* Marlusse Pestana Daher, Promotora de Justiça, Ex-Dirigente do Centro de Apoio do Meio Ambiente do Ministério Público do ES; membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Conselheira da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória – ES, Produtora e apresentadora do Programa “Cinco Minutos com Maria” na Rádio América de Vitória – ES; escritora e poetisa, Especialista em Direito Penal e Processual Penal, em Direito Civil e Processual Civil, Mestra em Direitos e Garantias Fundamentais.

 

Como citar e referenciar este artigo:
DAHER, Marlusse Pestana. Grito dos Excluídos. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/grito-dos-excluidos/ Acesso em: 19 abr. 2024