Política

Em país de todos, muito pouco somos

Rafael Maioral *

 

 

* Embora não pareça pelas primeiras linhas, e talvez aparentemente ao final dele, esse não é mais um texto pra falar o quanto brasileiro é corrupto, o quanto ainda somos subdesenvolvidos e quais são nossos principais problemas.

 

Trata-se, resumidamente, de pura conformação realística, com toques de esperança de alguém que ainda acredita – mas não sabe em quanto (e até quando) tempo – nesse país. 

 

Brasileiro é corrupto. Brasileiro é facilmente enganado por políticos – na verdade, muito antes, já era enganado por amiguinhos da escola. Brasileiro se acha malandro, muito esperto, porque é dono exclusivo do famoso “jeitinho”. Brasileiro tem a audácia de qualificar brasileiro como trabalhador. A ousadia de dizer que Deus é brasileiro.

 

Brasileiro tem a mania de falar mal de brasileiro.

 

Isso tudo já se tornou tão comum que não dói mais. É motivo de orgulho ser o 72° colocado numa lista dos países menos corruptos. Falamos rindo uns aos outros, na falta de esperança dos conformados, a quem só o bom humor resta.

 

A propaganda do Governo Federal com o slogan “Ele é Brasileiro e não desiste nunca” se tornou piada. De uma hora pra outra, passamos a perceber o quanto desistimos. Sorte que, aos que desistiram, há sempre a possibilidade de retomar o processo. É o ‘tente outra vez’ esperançoso e imortal.

 

A constatação da nossa desistência aparece em atitudes singelas e inofensivas, mas de profundidade e ignorância incríveis E dessas atitudes insólitas e ignorantes, um adendo especial a uma delas:

 

Nós pichamos muros “Fora Bush”. A atitude não é nova, apenas mudou de nome. Já foi “Fora Clinton”, e será, em breve, “Fora Hilary”. Os presidentes americanos estão, todos, fadados ao carma da crítica original brasileira. Não é a figura do presidente em si que estimula as pichações, mas o saber que naquele muro, está o nome de alguém muito mais importante e poderoso do que jamais seremos. É isso que não suportamos, e a que somos invejosos e irracionais – admitir a superioridade do próximo. Superioridade, veja bem, em termos de poder e padrão de vida. E tal somos inoperantes diante dessa constatação, que nosso destino preferido, nas férias de fim de ano, são aquelas três letras demonizadas por todos os cantos. Por lá vamos ganhar dólares, trazer presentes da Disney e artigos tecnológicos que aqui ainda não chegaram. E iremos nos exibir, aos amigos, por portar tais itens, sem lembrar que tempos atrás o imperialismo americano deveria ser varrido do planeta.

 

Fala-se tanto em crescimento, e em desenvolver, melhorar, dividir, e tornar potência – talvez nos esqueçamos que a humildade seja virtude necessária para tais metas.

 

Brasileiros, coloquem-se nos seus lugares. Retirem-se dos altos pedestais de falsa consagração que se auto-julgam, eliminem a farsa da ilusão de ter ideais revolucionários, e admitamos nossos próprios problemas. Não com a imoral e simples constatação. Corramos atrás. Usemos nosso “jeitinho” para um fim que justifique tal estupidez. Somos ou não somos trabalhadores? Aqueles que nunca desistem? Que não desistamos, então, da resolução dos nossos problemas. Pensar no próximo, aqui, não é válido. Não quero saber do crescimento chileno ou da potencialização chinesa. Não me incomoda a guerra no Iraque. Incomoda é esse falso patriotismo de ‘Copa do Mundo’ a qual nos submetemos – não precisamos criar motivos de orgulho em ser ‘Brasil’ somente a cada quatro anos.

 

Incomoda ver o Brasil pequeno e irrelevante. Vamos sair dessa situação com inteligência.

 

Da próxima vez que pichar um muro, lembre-se do político da sua cidade que prometeu e não cumpriu. Quando lembrar da raiva que tem da ALCA, lembre-se daquele emenda constitucional que te prejudicou diretamente. E pense como seria gratificante passar de resto para potência. Menos desigualdades, mais empregos e melhores condições – não para eles, sejam eles quais forem – mas para nós. Para o Brasil.

 

 

 

* E se faltar muro, levante-os. A Muralha da China tem 7300 km de extensão, e o país cresce mais qualquer outro. Muro não é problema.

 

 

 

*  Acadêmico de Jornalismo na UFSC e de Administração na UDESC/ESAG.

 

 

 

* Acadêmico de Direito na UFSC.

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
MAIORAL, Rafael. Em país de todos, muito pouco somos. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/emumpais/ Acesso em: 20 abr. 2024