Política

Robin Hood, o charmoso meliante

Robin Hood, o charmoso meliante

 

 

Mario Guerreiro *

 

 

Quem não conhece Robin Hood? Só quem nunca foi ao cinema. Não se trata de um desses heróis de Hollywood dos tempos dos nossos avôs e esquecidos totalmente hoje, mas sim de um dos heróis revividos por novos filmes com novos atores.

 

Esta personagem smilendária da Inglaterra medieval foi representada por Robert Frazer em 1912 e por Douglas Fairbanks em 1922, ambos nos tempos do cinema mudo. Em 1938, já nos tempos do cinema falado, foi revivida por Errol Flynn e seu indefectível bigodinho fininho.

 

Mais recentemente voltou à tela com Kevin Kostner e voltará novamente em breve estrelada por Russel Crowe, aquele de O Gladiador.

 

Em Portugal, ninguém conhece Robin Hood, que por lá em ultramar é conhecido como Robim dos Bosques. De fato, em português, este é o nome do passarinho que acabou virando o apelido (alcunha, como por lá se diz) da semilendária personagem, assim como Garrincha, nome de outro passarinho, acabou virando apelido do grande jogador de futebol.

 

Há personagens da história, como Ricardo I, Rei da Inglaterra (1189-1199) conhecido como Richard Coeur de Lion (Ricardo Coração de Leão) cujo apelido é proveniente do francês normando, a língua falada pela corte inglesa na época. Há personagens lendárias, como Beowulf, herói do poema épico anglo-saxônico do mesmo nome e, finalmente, personagens semilendárias, como Robin Hood.

 

Verdadeira ou não, meio-autêntica, meio-lendária, a versão corrente é a de um nobre anglo-saxão cujas terras teriam sido tomadas por um barão normando. A partir daí, ele teria se embrenhado na floresta de Sherwood em Nottingham, onde acabou formando seu bando, que se dedicava a roubar dos ricos para dar aos pobres. E acabou ficando conhecido como The Prince of The Thieves, i.e. “O Príncipe dos Ladrões”.

 

Dada a finalidade última de sua atividade – a de distribuir dinheiro entre os necessitados – aqueles que adotam a imoralíssima máxima atribuída a Maquiavel: “Os objetivos justificam os meios”, nunca consideraram Robin Hood como um nobre ladrão, mas sim como um ladrão nobre.

 

[Nesta, como em outras expressões, a ordem dos fatores altera o produto: uma coisa é “noite azul”, outra, e bem distinta, “azul noite”!].

 

Acontece que Julian Lindford – um especialista em história medieval inglesa do Departamento de História da Universidade de Saint Andrews (Escócia) – pesquisando as notinhas de rodapé da Polychronychon, uma espécie de enciclopédia de História datando do século XIV, deparou-se com as anotações feitas por um monge e historiador da época.

 

De acordo com as quais, Robin Hood estava longe de ser o glamouroso “herói romântico” das lendas medievais e de Hollywood. Tratava-se de um fora-da-lei que infestava a floresta Sherwood e redondezas assaltando e matando ricos e pobres igualmente. Além disso, a verdadeira história não teria se passado durante o reino de Ricardo, Coração de Leão, mas sim no reino anterior de Eduardo I. [ “Robin Hood, O Malvado” em O Globo, 28/3/2009).

 

Supondo que o referido historiador – em seu artigo para o Journal of Medieval History – esteja correto, teremos que fazer algumas modificações – não na história contemporânea, mas em determinadas atribuições feitas por determinados cientistas sociais, economistas, historiadores, etc.

 

Dadas certas medidas características da social democracia, tais como redistribuição de renda, imposto sobre herança, imposto progressivo e coisas assemelhadas, autores autenticamente liberais têm qualificado pejorativamente esse tipo de coisa como “a política econômica de Robin Hood”.

 

Mas, considerando que ele não roubava dos ricos para dar aos pobres, mas sim de ricos e pobres em proveito próprio e de seu bando, seu nome deve ser associado a uma coisa muito pior do que a social democracia: “política econômica demagógica das quadrilhas no Poder em países do terceiro mundo”.

 

 

           apêndice I: a sub-reptícia influência de robin hood

 

Certa vez, estava eu numa fila para tirar fotocópia Xerox, quando surpreendi a erudita conversa de dois alunos de Ciências Sociais. Dizia um para o outro: “… É, cara, assalto a banco é uma forma de redistribuição de renda!”

 

 Ledo engano: redistribuição de renda é que é uma forma de assalto. [vide Bertrand de Jouvenel: A Ética da Redistribuição, Porto Alegre. Ortiz, Liberty Fund e Instituto Liberal. Prefácio de J.O. de Meira Penna].

 

       

                           apêndice II: lula e o nazismo às avessas

 

De acordo com nosso Presidente, os culpados pela crise são os b(r)anqueiros de olhos azuis, que exploram os pobres de outras raças. De acordo ainda com o mesmo, ele nunca viu um banqueiro negro nem mulato, nem moreno, etc.

 

De onde se conclui que ele precisa ser urgentemente apresentado a Stan o’Neil, ex-presidente da Merryl Lynch – que está de pires na mão – e a Frank Raines, ex-presidente da Fannie Mae – esta, um dos estopins da crise – pois ambos são negros como os cabelos de Iracema,  que eram mais negros do que a asa da graúna.

 

Trata-se de um nazismo às avessas em que os bodes expiatórios são “arianos puros”, louros de olhos azuis.

 

 

* Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.

 

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Como citar e referenciar este artigo:
GUERREIRO, Mario. Robin Hood, o charmoso meliante. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/robin-hood-o-charmoso-meliante/ Acesso em: 18 abr. 2024