Política

Até tu, Demóstenes?

Que decepção!!!

Neste mar de lama em que se transformou a política com a hegemonia do PT, em que vários ministros de Dilma foram afastados sob forte suspeitas de
corrupção, não podemos confiar em nenhum membro do partido do governo e seus aliados.

Assim sendo, colocamos toda nossa esperança em membros da oposição que apesar de tíbia, ainda tem alguns políticos sérios criticando as mazelas que
povoam as folhas dos jornais e estão muito longe de ser uma campanha “denuncista”, como alegou o ex-Ministro Carlos Lupi (PDT-RJ).

Dentre esses, destacavam-se o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) que se não foi reeleito, calou-se para sempre e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO),
uma voz que se levantava criticando os malfeitos do governo e sempre em defesa de boas causas.

Ex-promotor de Justiça, que chegou a ser Procurador-Geral do MP, o referido senador era um dos poucos que podia contar com a admiração de todos os
brasileiros honestos e conscientes da terrível fase que está atravessando o País.

Mas abro a Folha de S. Paulo em 31/3/2012 e deparo com a manchete da primeira página:

Senador Atuou em Prol de Acusado de Contravenção

“Investigação feita pela PF indica que Demóstenes Torres (DEM-GO) usou o cargo de senador para atender a interesses do empresário Carlinhos Cachoeira –
preso sob a acusação de explorar jogos ilegais – no Congresso e no governo federal.”

“O congressista defendeu pessoalmente na Anvisa as demandas de um laboratório que a polícia diz ser de Cachoeira, e acertou com ele ajuda em projeto de
legalização de jogos de azar e em um processo judicial, como revelam as escutas da PF.”

Ora, há muito tempo que já denunciamos esse descarado cinismo de proibir jogos de azar patrocinados pela iniciativa privada e reservar para o Estado o
monopólio do jogo sob as formas de loteria esportiva, raspadinha, etc.

Fosse isso que o senador estivesse denunciando, ele estaria coberto de razão e contaria com o aplauso de muitos brasileiros que já perceberam essa
proibição unilateral associada a um permissivismo inaceitável.

Mas não, o senador é acusado de defender os interesses ilegais de um empresário condenado pela Justiça.

Mas a Folha prossegue: “Em outro grampo, o empresário pediu a Demóstenes para barrar o depoimento de um amigo empreiteiro”.Ora, só se pede para
barrar um depoimento quando este mesmo lança graves acusações sobre aquele que pede.

“No Senado, a cassação do parlamentar, ameaçado de expulsão pelo DEM, é dada como certa caso seja investigada pelo Conselho de Ética”, embora as
acusações do ex-Ministro da Pesca contra Idely Salvati tivessem sido esquecidas tanto pelos políticos como pela mídia, como disse Rafael Picate na Rede Liberal em 2/4/2012:

“Idely foi denunciada por um crime, por um próprio partidário, ex-Ministro da Pesca . Levou dinheiro para o partido em uma licitação suspeita,
utilizando a infra-estrutura do Ministério da Pesca. Dinheiro público.”

“Demóstenes está sendo execrado pela imprensa, partido e opinião pública. Idely, defendida pelo partido, ignorada pela imprensa e opinião pública.”.

Mas é ainda mais espantoso o que afirmou a defesa de Demóstenes segundo a Folha, sem que tivesse esclarecido se a defesa foi feita por seu
advogado ou pelo próprio senador:

“Sua defesa afirmou que as gravações da PF não têm valor jurídico e são nulas. Demóstenes e o advogado de Cachoeira não se manifestaram sobre o caso”.

Ora, as gravações não teriam valor legal e seriam nulas caso constatada a existência de fraude.

Acho que ainda não chegamos a esse ponto de a PF falsificar provas, de modo a incriminar um senador da República. Como é fácil de ser tecnicamente
verificado, isto seria um mal-feito muito mal feito!

Como citar e referenciar este artigo:
GUERREIRO, Mário Antônio de Lacerda. Até tu, Demóstenes?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2012. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/ate-tu-demostenes/ Acesso em: 29 mar. 2024