Política

O partido de Kassab


29/10/2010

Ou Gilberto Kassab é um inaudito gênio da
política ou é o trapalhão eleitoral mais completo que apareceu entre nós. Os
jornais de hoje trazem a nota de que o digníssimo prefeito, que recém fundou um
partido – Partido Social Democrata – deu declarações de que seu partido não é
nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. Que raio de partido é esse? Eu
vou lhedizer, meu caro leitor, concordando com Kassab: nem sequer
deveria ser chamado de partido. Não tem programa, nem ideologia e nem se
pretende representar segmento social algum. É um partido de caciques que buscam
meramente cumprir as formalidades eleitorais, a fim de se manter no jogo da
política.

De forma ingênua Kassab disse a verdade
que tenho reiteradas vezes escrito, que só temos, entre nós, um partido digno
desse nome – o PT – ficando as demais denominações de esquerda funcionando como
sublegendas regionais, para acomodar os interesses dos múltiplos dirigentes. Um
exemplo claro é o PSB: em nada difere do PT, mas permite o jogo eleitoral e
também dar ao eleitor a impressão de que se trava uma disputa por diferentes
plataformas políticas. Um logro conveniente, para manter as aparências
democráticas.

O grupo do PSDB é oposição em relação à ocupação
dos postos de mando, mas de forma alguma é uma oposição ideológica. O programa
do PSDB é cópia do PT, embora seus dirigentes não tenham a agenda oculta do PT
– a verdadeira agenda – de se manter no poder sem alternância. O PT é assim um
partido de vocação autoritária e mesmo totalitária, pois não tem a democracia
como um valor a ser buscado. Já o PSDB tem sido o fiador da nossa democracia. O
fato de controlar estados importantes, como São Paulo e Minas Gerais, impede o
PT de “aprofundar” seu viés bolivariano. Nesse sentido, o PSDB tem prestado
grande serviço aos brasileiros.

E o partido do Kassab? É um zero a esquerda em
matéria ideológica e não entusiasma sequer ele mesmo. Serve apenas de veículo
para acomodar situações travadas pela legislação eleitoral. Do DEM traz alguns
excelentes nomes, como Guilherme Afif Domingos, a quem não coube
outra escolha que não embarcar na canoa do Kassab. Afif, pela
história e porte político, é um genuíno representante do que sobrou da direita
no Brasil e é o mais forte postulante a disputar a prefeitura de São Paulo.

E o DEM? Perdeu-se com a derrocada de José Roberto
Arruda e suas confissões públicas. Não tem futuro como legenda, é uma marca
queimada. Provavelmente encolherá ao nível do nanismo nos próximos pleitos.
Está liquidado.

Kassab tem razão. Nem de direita, nem de
esquerda, nem de centro. Muito pelo contrário. Enquanto isso, uma boa metade da
população brasileira fica órfã de representação política, por ser de direita e
não ter ninguém que lhe postule o voto. Essa metade dos eleitores escolhe ao
sabor do momento, sempre dos males o menor. A cegueira de nossa classe política
é atroz. Os partidos podem se confundir na geléia ideológica geral, mas isso
não ocorre com o eleitor, que está à espera de líderes que o representem.

* José Nivaldo Cordeiro,
Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente
liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais
relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para
diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de
Livrarias.

http://www.nivaldocordeiro.net/

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. O partido de Kassab. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/o-partido-de-kassab/ Acesso em: 18 abr. 2024