Política

À espera de Dilma

24/12/2010

O que
esperar o novo governo de Dilma Rousseff? Em tudo e por tudo teremos o
continuísmo petista, juntamente com seus aliados. Mas o movimento em espiral
descendente continuará no rumo aos ideais jacobinos dos
revolucionários, pois estes jamais se satisfazem com a mera chegada ao poder.
Precisam implantar sua ordem revolucionária.

Dois
indicadores foram dados a público, sublinhando essa realidade terrífica. Ementrevista dada à Folha de São Paulo
no último domingo o futuro ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo,
que é o secretário geral do PT, disse que a primeira ação da pasta sob seu
comando será fazer a reforma política. Falou pouco em que consistiria essa
reforma, enfatizando apenas o aspecto do financiamento público das campanhas.
Nas suas palavras:

Ela é
imprescindível para o país e é a tendência da presidente eleita, DilmaRousseff.
Tenho uma série de convicções a respeito, mas, como ministro da Justiça,
vou construir o que for possível. Estou absolutamente convencido de que o
governo sozinho, sem diálogo com o Congresso e a sociedade, jamais fará uma
reforma política. É tarefa inadiável. Defendo com vigor o financiamento público
”.

O que
significa o financiamento público de campanha? A completa autonomia da classe
política em relação à sociedade civil, dando poder desmesurado aos partidos
políticos vis-à-vis aos empresários e outros agentes não estatais. Os partidos
já funcionam como verdadeiras máfias; com o financiamento público teriam o
modelo de sonhos: quem estivesse no poder dificilmente seria dele apeado.
Estaríamos a meio do caminho andado para que o Estado adquirisse completa
autonomia em relação à população, fazendo desaparecer mesmo o problema da
representação política.

O segundo
ponto não mencionado nesta entrevista, mas que está em outros documentos
partidários, é acabar com o Senado Federal, instituindo o sistema unicameral.
Cardozo não pôs a mão no vespeiro, pois sabe que qualquer decisão deste quilate
envolve a concordância do próprio Senado, que jamais dará o seu endosso. O
Senado é o feudo do PMDB, lócus de sua própria fonte de poder. É a reforma dos
sonhos do PT. Penso que algo assim só será possível obter pela força, pelo
golpe de Estado, e o PT não tem ainda essa força.

Outro indicador
da agenda imediata da presidente eleita está no Estadão de hoje, na entrevista de
Franklin Martins. Chega a me enternecer a candura do ex-perigoso guerrilheiro.
Ele, como Cardozo e toda a cúpula do PT, sentem-se tão à vontade
que não têm mais o cuidado de esconder suas más intenções. Franklin
anuncia que o PT quer mesmo controlar o conteúdo da mídia, isto é, acabar com a
liberdade de imprensa.

Essa é a nefanda
agenda preliminar de Dilma para o exercício do poder em seus primeiro meses. O
que cabe a nós, os amantes da liberdade, fazer? Temos que dizer como o
personagem Durandarte, desde o fundo da Cova de Montesinos, no fabuloso
Dom Quixote: “E quando assim não seja — respondeu o tristeDurandarte, com
voz desmaiada e baixa — quando assim não seja, paciência, e toca a baralhar as
cartas
”.

Paciência e
baralhar! Aguardemos o que nos aguarda o destino. O mal jamais terá a vitória
final. Vamos baralhar, pois eles tropeçarão nos próprios pés e
cometerão erros fatais.

* José
Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo.
Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um
dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos
diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação
Nacional de Livrarias

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, Nivaldo. À espera de Dilma. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/a-espera-de-dilma/ Acesso em: 19 abr. 2024