Política

E agora José?

 

O PSDB fez sua convenção e indicou José Serra como candidato a Presidente, mas não indicou o Vice. Após longo tempo, uma notícia causou surpresa em quase todo mundo.

 

Reunidos, os caciques tucanos indicaram Álvaro Dias (PR). O protesto do DEM foi imediato, não que houvesse alguma coisa contra o senador do Paraná, um dos mais atuantes membros da oposição, mas sim por não ter sido indicado um membro do DEM, o mais importante aliado de José Serra.

 

Instaurou-se um fator desagregador na campanha de Serra. Apareceram críticas tanto de membros do DEM como de membros do PSDB, como é o caso do velho cacique tucano FHC.

 

Houve quem acusasse Serra de autoritário e desagregador, houve quem  considerasse que, no mínimo, esta indicação repentina e açodada tinha sido feita sem maiores consultas às lideranças do DEM, e houve mesmo quem tivesse permanecido na mais completa perplexidade.

 

O que poderia justificar a indicação de um Vice fora dos quadros do DEM? Não tem cabimento a alegação de que esse partido, apesar da grande perda de seus membros nos últimos tempos, carecesse de bons nomes como Rodrigo Maia (DEM-RJ), Agripino Maia (nenhum parentesco) e outros.

 

É importante frisar que o DEM – chamado por Lulinha-Paz-e-Amor de DEMO quando ele é quem vendeu a alma para o diabo – não só é o mais importante aliado do PSDB como também tem constituído com este o maior bloco de oposição, antes mesmo do primeiro governo do PT.

 

Justificativas não faltaram para a referida escolha do Vice. Entre elas, a de que Álvaro Dias traria juntamente com ele uns dois milhões de votos do Paraná. Numa eleição que prefigura uma acirrada disputa entre Dilma e Serra, essa quantidade de votos não é algo de se jogar fora, assim como na hipótese de um segundo turno os 9% de preferência por Marina Silva (PV) serão ambicionados tanto pelo PT como pelo PSDB.

 

Mas será que os possíveis votos do Paraná compensam uma efetiva crise com o DEM?

 

Pode ser por mera coincidência, mas o fato é que essa inabilidosa indicação ocorreu justamente no momento em que Dilma emparelhou com Serra e posteriormente ganhou uma pequena vantagem. Pesquisas mostraram que Dilma cresceu justamente nas regiões Sul e Sudeste onde Serra obtinha a maior parte de seus votos.

 

Como se explica isto, principalmente na região sudeste em que estão São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do Brasil? Será que se trata de um desentendimento entre Serra e Alckimin? Será que Aécio Neves, duvidoso de uma vitória do candidato tucano – desde o momento em que recusou sua indicação para Vice – vem fazendo corpo mole?

 

Ou será isto explicável pelo avassalador uso da máquina do governo que há bom tempo vem trabalhando a favor da candidata do PT, com Lulinha-Paz-e-Amor tendo recebido quatro multas do STE por desrespeito à lei eleitoral?  E eis um belo exemplo dado por quem se diz democrata, mas debocha abertamente da lei!

 

Algumas pesquisas feitas nos inícios da campanha descaradamente ilegal de Dilma mostravam que Lula não transferia ou transferia um número pequeno e irrelevante de votos, porém as mais recentes pesquisas mostram que Pompeu de Toledo estava certo quando, num artigo publicado em Veja, tinha afirmado que com 85% de aprovação de seu governo, Lula seria “capaz de eleger até um poste”. No momento atual, tudo indica que teremos um poste como Presidente do Brasil. Mas só se for para alegria dos vira-latas que farão bom uso dele…

 

“Poste” não é o termo exato, pois na realidade o que provavelmente teremos é uma marionete de Lulla que sairá de cena, mas continuará mexendo os fios de seu títere de saia, nutrindo a não vã esperança de reaparecer gloriosamente em cena, para mais oito desastrosos anos de governança. Deus nos livre a guarde!  Não merecemos tamanho sofrimento!

 

Todavia, ainda é cedo para admitir a derrota de Serra, embora talvez seja tarde para anunciar uma grave ameaça pairando sobre nossas cabeças: um largo passo na direção da implantação do socialismo totalitário no Brasil transformando a liberdade em opressão e a prosperidade em miséria igualitária, para a satisfação de El Coma Andante, de Hugorila Chávez , Primevo Inmorales e outros manda-chuvas da esquerda carnívora.

 

Será que a maioria dos brasileiros é tão apedeuta e tapada que não é capaz de prever isso? Será que ela não é nada disso, mas considera isso extremamente desejável? Será que está padecendo de um sono letárgico entorpecida pela propaganda gramsciana veiculada nos jornais, na TV, nas escolas, nas universidades e até nos prostíbulos?

 

Creio que a coisa remete a um dilema crucial: os 85% que admiram Lula se dividem em dois e somente dois grupos, e estes são dos mesmos tipos que cercavam Vargas, segundo ele próprio: os que não são capazes de nada e os que são capazes de tudo, energúmenos e oportunistas.

 

                      

                                      apêndice  supurado

 

São Paulo, 30/6/2010 __ Indicado na última sexta (25), o senador tucano foi substituído nesta quarta (30) pelo deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Sob risco de perder os três minutos de TV do DEM, Serra fez por pressão o que se negara a fazer por obrigação: levou os cotovelos à mesa de negociação. Em movimento esboçado na madrugada, trocou Álvaro por Índio, deputado do grupo do ex-prefeito Cesar Maia e do filho dele, Rodrigo Maia, presidente do DEM. Meno male!

 

 

* Mário Antônio de Lacerda Guerreiro, Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.

 

Como citar e referenciar este artigo:
GUERREIRO, Mário Antônio de Lacerda. E agora José?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/e-agora-jose/ Acesso em: 29 mar. 2024