Política

Tirando o povo da m…

 

 

No cerimonial de assinatura dos contratos do programa “Minha casa, sua casa” em São Luís do Maranhão, em 10 de dezembro de 2009, o ilustre Presidente da República brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, assinalou enfaticamente: “(…) eu quero saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto.”

 

Ressaltou também o referido Presidente que nunca um governo investiu tanto em saneamento básico, talvez por isso mesmo, tenha ficado um tanto infectado com tanta merda, que acabou por sair pelas vias verborrágicas…

 

Reconheceu explicitamente a mais alta autoridade do Poder Executivo nacional que de fato falou palavrão, e se referiu a imprensa que certamente alardearia tal fato.

 

Reconhecidamente foi carismático, aliás, conta com altos índices de popularidade. Talvez por causa dessas “tiradas” infames ou até mesmo, cogita-se num terceiro mandato, o que certamente contraria a vigente Constituição Federal Brasileira, além de enveredarmos pelo perigoso carma populista da ditadura civil tão peculiar em outros rincões da América Latina.

 

Só para ilustrar a inusitada situação, recorro à etimologia da palavra merda vem do latim e significa excremento, embora que na linguagem de teatro e do circo, merda dita em forma de interjeição, significa boa sorte ao artista que está prestes a se apresentar.

 

É verdade que quando utilizamos expressões mais leves e sutis, como por exemplo, falecimento, ao invés de cogitar de “morte”, estaremos utilizando a figura de linguagem conhecida como eufemismo. Ao passo revés, se utilizarmos expressões pesadas, ridículas e rudes, estaremos cometendo um disfemismo… Assim ao invés de dizer, quero tirar o povo de suas dificuldades, digo: quero tirar o povo da m…

 

Mas a quem interessa os disfemismos de Lula? A quem pode parecer simpático ou mesmo conveniente? A propósito, onde está a assessoria de imprensa do Presidente da República?

 

Bem, de qualquer maneira restou ovacionado apesar do impropério. E, falando sobre o quanto investiu em saneamento básico, não poderia mesmo ser mais explícito e direto.

 

Não há metalinguagem. E nem a despreocupação em parecer menos populista do que já é… e lembremos que o Maranhão é o estado- membro que apresenta o mais baixo índice de desenvolvimento humano(IDH).

 

Esperemos que no afã em recuperar a verve dos discursos de impacto da sua era de sindicalista, não nos faça sentir mais vergonhas do que já sentimos…

 

E que não acabe por imergir a democracia em descrédito, desesperança e no espetáculo sucessivo de mau gosto repleto de cenários de corrupções, cuecas, rezas obscuras, arrudas de mau agouro e mensalões.

 

Que bosta, hein!?

 

 

* Gisele Leite, Professora universitária, Mestre em Direito, Mestre em Filosofia, Doutora em Direito Civil. Leciona na FGV, EMERJ e Univer Cidade. Conselheira-chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas (INPJ).

Como citar e referenciar este artigo:
LEITE, Gisele. Tirando o povo da m…. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/tirando-o-povo-da-m/ Acesso em: 29 mar. 2024