Judiciário

Juízes: Lideranças Impostas

 

Basicamente, existem dois tipos de lideranças:

 

1) lideranças espontâneas (frutos de um processo natural de seleção dentro das coletividades, quando essas coletividades elegem seus representantes, tendo poder para destituí-los, p.e., a escolha de ocupantes de cargos políticos, líderes sindicais e outras entidades etc.);

 

2) lideranças impostas (decorrentes de processos outros que não as eleições, por exemplo, concursos para escolha de juízes, membros do Ministério Público e das Polícias Civil e Militar etc.)

 

JOSÉ CAMPONIZZI FILHO, procurador de justiça em Minas Gerais, sempre alertava os promotores de justiça recém-concursados no sentido de terem consciência de sua condição de lideranças impostas.

 

Qual a importância de sabermos como os jurisdicionados nos encaram e vêem nossa atuação? – Justamente para termos consciêmncia de que, muitas vezes, nos tolerarão como um mal necessário ou um mal invencível…

 

Seremos, em determinadas situações, como norte-americanos no Iraque ou como colonizadores nos países colonizados…

 

O fato de não sermos eleitos pelo povo faz com que sejamos, como disse o juiz VITOR DOS SANTOS MARTINS FERREIRA, um time que joga sem torcida…

 

Por enquanto, não devemos nos iludir achando que temos popularidade. Apenas um ou outro de nós consegue adesão popular, como acontece com a juíza DENISE FROSSARD.

 

Devemos continuar assim ou procurar uma aproximação da população?

 

Se reconhecermos que somos servidores públicos (aqueles que servem ao público) e agirmos como tal, estaremos abrindo um canal de comunicação ligando-nos aos jurisdicionados.

 

Se ficarmos encastelados numa torre de marfim, nossa legitimidade ficará cada vez mais questionada.

 

Esse distanciamento é que instiga, em última instância, as sucessivas Reformas do Judiciário…

 

Somos uma comunidade que não se democratizou nem internamente…

 

A excessiva hierarquização interna repercute na dificuldade externa de nossa aceitação pelas populações.

 

A rigidez exagerada da nossa instituição é nosso mal maior.

 

Democratizemos internamente nossa estrutura e, externamente, procuremos ser menos formais.

 

Assim estaremos trabalhando para uma melhor proximidade frente àqueles que esperam de nós as nossas atenções e as soluções para seus problemas jurídicos…

 

Se temos o lado questionável de não sermos eleitos, por outro lado temos a virtude da credibilidade.

 

Por não fazermos conchavos, temos credibilidade.

 

Devemos aproveitar essa credibilidade para aumentar nossa aceitabilidade…

 

 

* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

 

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. Juízes: Lideranças Impostas. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/judiciario/juizes-liderancas-impostas/ Acesso em: 29 mar. 2024