Economia

Falácias da Economia

Falácias da Economia

 

 

Ives Gandra da Silva Martins*

 

 

Certamente, a idade tem me tornado mais intolerante com uma enormidade de falácias que se ouve no mundo moderno e que não consigo esconder.

 

Uma delas é de natureza econômica. A economia é, fundamentalmente, uma ciência psicossocial definida pelo mercado. São bons os economistas que percebem suas tendências, aproveitando-as e, quando possível, –o que é raro- reorientando-as. A econometria é uma mera ciência instrumental e, decididamente, não há economia ideológica. O fracasso daqueles que entendem que os economistas fazem a economia, a partir de suas convicções políticas, tem seu retrato, no mundo moderno, na monumental falência de todos os países que estiveram sob o domínio soviético, na Cuba de Fidel e naquelas nações afro-asiáticas e latino-americanas que ainda vivem da vã ilusão de que a ideologia faz o mercado.

 

O próprio MST, inspirado por economistas que defendem o avanço do retrocesso e da agricultura pré-histórica, é um movimento de natureza política e não econômica, totalitário e não democrático, cujo objetivo mais remoto é entregar terras para uma parcela reduzida da população. Seu principal e verdadeiro escopo é desestabilizar as instituições, impor ideologias anacrônicas pela violência – e não pelas urnas – e impedir o desenvolvimento do país, tomando terras que tornaram o Brasil uma das maiores potências do agronegócio, na atualidade.

 

É que a economia é um jogo de xadrez. Cabe ao economista analisar as regras de mercado – que são percebidas por todos-, sendo bom aquele que consegue antecipar as jogadas futuras, como o faz um hábil jogador. Não é um jogo de pôquer, como querem os ideólogos, nem um jogo de estatísticas, como querem os econometristas, cultores de uma ciência cuja utilidade instrumental, todavia, não pode ser dispensada.O mundo atual tem excesso de operadores econômicos e carência de verdadeiros economistas. Por isto está em crise, porque não anteviu os movimentos das regras do mercado, com a inadimplência causada pelo excesso de crédito deslastreado e a instabilidade dos preços das “commodities”.

 

Os próprios Estados Unidos sofreram o impacto deste “boom” que lideraram e do qual foram as primeiras vítimas. Seu sistema financeiro –não lastreado, como o sistema brasileiro, fundamentalmente em títulos públicos, mas em títulos privados-, terminou por mostrar-se débil, gerando a crise mundial.

 

Mesmo a redução dos juros para incentivar o consumo, num momento de necessidade de controlá-lo, provocou dois fatores que afetaram ainda mais a dimensão da crise: a recuperação mais lenta do próprio mercado financeiro, em face dos juros baixos, e um desinteresse maior dos investidores estrangeiros, derrubando seu consumo e atingindo as ações de suas companhias, pela falta de credibilidade. Tal impacto, à evidência, não poderia gerar senão um descontrole intestino, que terminou por elevar o nível de preocupação sobre o futuro.

 

Nitidamente, a China, cuja ditadura esquerdista adotou as regras do livre mercado, está se beneficiando da crise mundial, em face de os encargos burocráticos, tributários, trabalhistas acumularem um custo de descompetitividade, para os países ocidentais, que a China desconhece.

 

Certamente, combater a tendência ocidental de cada vez trabalhar menos, com mais direitos e menos deveres, provoca pesados ônus políticos, que os governantes do mundo inteiro não querem assumir, o que torna o futuro domínio da China na economia mundial uma questão de tempo. Não é que a China seja melhor, é que o mundo é muito pior.

 

 

* Professor Emérito das Universidade Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, da Academia Paulista de Letras e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: http://www.gandramartins.adv.br

 

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Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Falácias da Economia. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/economia/falacias-da-economia/ Acesso em: 29 mar. 2024