Direito Internacional

Diálogo à Exaustão

Diálogo à Exaustão

 

 

Ives Gandra da Silva Martins*

 

 

Após três anos da invasão do Iraque, o governo americano não conseguiu lá implantar a democracia, que alegava ser o motivo maior da intervenção naquele país, após seu esfacelamento, sem encontrar qualquer arma de destruição em massa. Ao invés disso, conseguiram gerar a completa desestabilização da região, com perdas diárias de vidas de americanos e da população local, além de considerável aumento do terrorismo.

 

Em artigos que escrevi para o JB e Folha de São Paulo, manifestei, desde o início, a convicção de que o resultado final seria aquele que Bush está agora colhendo.

 

Li, certa vez, quando moleque – no tempo em que as ciranças liam livros, pois não havia televisão – em coletânea intitulada “Os mais belos contos russos”, a história de sete guerreiros invencíveis que se reuniram para comemorar sua superioridade sobre os demais homens. Durante a comemoração, surgiu um cavaleiro armado a desafiá-los, e um deles, com um único golpe, dividiu-o ao meio. Para espanto de todos, o guerreiro batido transformou-se em dois cavaleiros, que, quando mortos pelo mesmo lutador invencível, transformaram-se em quatro. A partir daí, durante sete dias, os sete guerreiros invencíveis lutaram com os cavaleiros multiplicados, até serem derrotados pelo cansaço e pela multidão infinita, gerada pela morte do primeiro.

 

A lembrança do conto infantil veio-me à memória, em face do rotundo fracasso da invasão americana e da terrível ameaça que constitui a multiplicação de “terroristas-mártires”, que põem em risco a paz no mundo inteiro.

 

Tenho a impressão que há necessidade de um diálogo a ser iniciado de imediato e à exaustão. Os povos e as culturas são diferentes e é inútil uma nação tentar implantar sua maneira de ser a outra, cujos valores, tradição e costumes são diversos.

 

Até Israel, que conviveu, na era Clinton, em paz com os palestinos, após acordo entre Shimon Peres e Arafat, firmado na Romênia, percebeu o erro da invasão do Líbano, em que destruiu o sul do país, mas não erradicou o terrorismo.

 

Só há uma forma de combater esse flagelo: é isolá-lo. E a melhor forma de fazer isso, é respeitar a maneira de ser dos povos e dialogar para encontrar convergências que suplantem as divergências, inclusive com as nações mais desenvolvidas auxiliando as emergentes, economicamente.

 

Mediadores isentos devem buscar insistentemente as bases para a co-existência entre os diversos povos de um mesmo país, como os curdos, xiitas e sunitas, no Iraque.

 

É necessário tentar. Prêmios Nobel da Paz poderiam ser acionados para a interlocução entre as atuais facções inimigas, a fim de isolar, gradativamente, as células extremistas, preparando o caminho para a reconciliação e composição.

 

Foi instalada, no Brasil, a “CNU – Conversando com as Nações Unidas”, instituição que, nos diversos países em que se encontra presente, poderia também desempenhar papel admirável de distensão.

 

Fogo contra fogo pode gerar vitórias imediatas e derrotas permanentes. Somente uma campanha de “não violência”, inteligentemente preparada, e o respeito quanto à maneira de ser de cada cultura poderão abrir espaços para o entendimento mundial e reduzir as tensões crescentes do Oriente Próximo, evitando-se seus reflexos negativos sobre todas as nações.

 

 

* Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: www.gandramartins.adv.br

 

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Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Diálogo à Exaustão. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-internacional/dialogo-a-exaustao/ Acesso em: 20 abr. 2024